O segmento econômico ligado às florestas naturais e plantadas é crucial para o futuro do Brasil, um país com a maior biodiversidade do planeta. Neste contexto, a Engenharia Florestal se destaca. Os profissionais formados nessa área atuam em diversas frentes, desde a gestão de recursos naturais até a implantação e manejo de florestas plantadas, além da operação de unidades industriais cuja matéria-prima principal é a madeira, como no segmento de celulose e papel, onde o Brasil é o segundo maior produtor mundial. Todas essas atividades são conduzidas segundo os modernos conceitos de ESG – Social, Ambiental e Governança, garantindo a preservação ambiental e o desenvolvimento socioeconômico das comunidades locais e da sociedade em geral.
Mais de 10 milhões de hectares de florestas plantadas no Brasil são atualmente gerenciados por Engenheiros Florestais, destacando a magnitude de seu impacto. Além disso, a produção florestal brasileira alcança um valor anual de R$ 70 bilhões, evidenciando a importância econômica desse setor para o país. É importante ressaltar também que o Brasil é o segundo maior produtor mundial de celulose e papel, com essa indústria sendo abastecida por madeira proveniente de florestas plantadas, onde o Engenheiro Florestal desempenha um papel de destaque, desde a gestão florestal até as operações industriais.
Diante desse cenário, a Engenharia Florestal assume um papel central na condução de práticas sustentáveis que visam conciliar a conservação dos recursos naturais, produção florestal e industrial com o progresso socioeconômico.
Entrevistamos o professor Rodrigo Hakamada, novo docente do Departamento Florestal da ESALQ USP (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo), sobre o mercado de trabalho na área, suas necessidades atuais e futuras.
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Formação acadêmica
Com mais de 70 cursos de graduação em Engenharia Florestal oferecidos em universidades públicas e privadas em todo o país, os estudantes têm acesso a uma vasta gama de disciplinas.
Desde Ciências Florestais, com foco em silvicultura, dendrologia, manejo e inventário florestal, até Engenharia de Processos e Produtos Florestais, abrangendo estudos em celulose e papel, painéis de madeira, madeira serrada e estruturas de madeira, a formação também inclui Ciências Ambientais e Sociais, com temas como impacto ambiental, legislação e economia florestal.
Ao longo de cinco anos, os alunos adquirem habilidades essenciais para enfrentar os desafios do mercado de trabalho. Além de habilidades técnicas, as soft skills também merecem destaque.
“Fizemos um levantamento junto às empresas associadas ao IPEF – Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais – e 100% das empresas entrevistadas apontam que há uma escassez generalizada de profissionais preparados e conectados com vivências práticas e soft skills. É de extrema importância o desenvolvimento de habilidades de trabalho em grupo, capacidade de liderança, capacidade de atuar sob pressão e resolução de problemas simples ou complexos. Esse conjunto de soft skills junto com conhecimento prático de atividades da profissão estão no topo das habilidades”, destaca o professor Hakamada.
Possibilidades de carreira
O campo de atuação para os Engenheiros Florestais é vasto e diversificado. Eles podem encontrar oportunidades em empresas de base florestal, onde contribuem para o manejo florestal, produção de madeira e reflorestamento, além de atuarem nas operações industriais que utilizam a madeira como principal matéria-prima, como fábricas de celulose, papel e painéis de madeira, entre várias outras indústrias.
Órgãos governamentais como o IBAMA e o Ministério do Meio Ambiente também demandam seus serviços para a fiscalização e gestão ambiental. Organizações não governamentais e empresas de consultoria contratam esses profissionais para projetos de preservação ambiental, desenvolvimento sustentável, planejamento e implantação de florestas plantadas, dimensionamento de unidades industriais, entre outras atividades. Além disso, há espaço para atuação na docência, tanto em universidades quanto em instituições de ensino técnico.
Mercado de trabalho
A demanda por Engenheiros Florestais está em ascensão no Brasil e no mundo. Para o professor Hakamada, o mercado de trabalho nunca esteve tão favorável para essa profissão como no cenário atual, por diversos motivos, globais e regionais.
“Em escala global, a temática de mudanças no clima, por exemplo, traz uma enorme demanda para as soluções baseadas na natureza e isso tem uma relação direta com a profissão. Outra questão é essa tendência mundial de ações verdes que de alguma forma estão conectadas com as soluções baseadas na natureza. O mundo inteiro está preocupado em fazer escolhas ligadas a produtos e marcas mais sustentáveis, o que gera enormes demandas por engenheiros florestais. E por fim, a questão ligada a geração de energia limpa onde a nossa profissão entra em uma forte linha que substituiria a energia derivada de petróleo e produtos de maneira geral com elevada pegada de carbono. Estima-se que até 2050 haverá um aumento de produtos florestais na ordem de 60% na escala mundial”, explica Hakamada.
O Brasil tem papel de destaque neste cenário, uma vez que é um dos pólos globais de florestas plantadas, juntamente com China e Indonésia. “O mundo discute hoje a questão da Amazônia e o Brasil, sendo o país que detém a maior área da floresta amazônica, passa a liderar, tanto a questão da preservação quanto na produção baseada em manejo florestal e comunitário, muito comum na região amazônica”, destaca o professor.
A atuação dos Engenheiros Florestais no Brasil tem impactos significativos em diversas frentes:
Preservação Ambiental
Milhões de hectares de florestas no Brasil são protegidos por meio de ações de manejo florestal conduzidas por esses profissionais. Essas práticas contribuem diretamente para a conservação da biodiversidade, a regulação do clima e a proteção dos recursos hídricos, garantindo a sustentabilidade dos ecossistemas florestais.
Geração de Empregos
O setor florestal brasileiro emprega diretamente mais de 2 milhões de pessoas, proporcionando oportunidades de trabalho e renda para comunidades em áreas rurais e urbanas. Além dos empregos diretos, as atividades relacionadas à Engenharia Florestal também geram oportunidades em setores como o de produção de papel e celulose, painéis de madeira, bioenergia, mobiliário e produtos florestais não madeireiros, entre outros.
Contribuição para a Economia
O setor florestal desempenha um papel significativo na economia brasileira, respondendo por cerca de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. A produção e comercialização de produtos florestais, como madeira, celulose, papel, painéis de madeira, carvão vegetal para siderurgia, resinas e óleos essenciais, representam uma importante fonte de receita para o Brasil, contribuindo para o desenvolvimento econômico e a geração de riqueza.
Salário
Os salários para Engenheiros Florestais variam de acordo com a experiência, a área de atuação e a região do país.
Em média, um profissional iniciante pode esperar ganhar cerca de R$ 4.000,00, mas esse valor pode facilmente ultrapassar os R$ 10.000,00 para aqueles com mais experiência.
Profissionais com mais de 10 anos de atuação podem alcançar salários médios de R$ 20.000,00 ou mais.
Cultivando o futuro sustentável
Novo professor do Departamento Florestal ESALQ USP: Rodrigo Hakamada
Rodrigo Hakamada é o novo professor do Departamento Florestal da ESALQ USP. Graduado pela Universidade de São Paulo em 2004, Hakamada possui uma trajetória acadêmica e profissional notável, com especialização em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas pela Universidade Federal de Lavras (2008), além de mestrado e doutorado em Recursos Florestais com ênfase em Silvicultura e Manejo também pela USP, concluídos em 2012 e 2016, respectivamente.
Com uma experiência de 10 anos como pesquisador florestal no setor privado, atuando em empresas renomadas como Veracel e International Paper, Hakamada acumulou vasto conhecimento em projetos técnico-científicos e práticas silviculturais, sendo responsável por recomendações técnicas e extensão florestal em mais de 100.000 hectares de florestas plantadas e áreas de restauração degradadas.
Além disso, seu percurso acadêmico inclui passagens como aluno visitante de doutorado na Kasetsart University, na Tailândia, e no serviço florestal americano (Rocky Mountain Research Station), em 2015/2016. Posteriormente, atuou como sócio e engenheiro florestal na 4Tree (atual Geplant), assessorando projetos de pesquisa, desenvolvimento e extensão florestal.
Desde 2018, Hakamada desempenha o papel de professor doutor na Universidade Federal Rural de Pernambuco, liderando projetos científicos no Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF). Sua expertise transcende fronteiras, com atuação como professor visitante na Universidade de Guadalajara, no México, e como pesquisador pós-doutorado na Colorado State University, sob a supervisão de Dan Binkley.
“Vou me dedicar muito nos próximos anos a trazer soluções relacionadas a pesquisa ligadas a florestas e mudanças no clima, tanto na área de plantações florestais quanto manejo de florestas nativas. Algo que considero tão importante quanto soluções de pesquisa seja a capacitação de graduandos e pós-graduandos para atuação nessa linha de combate às mudanças do clima através de manejo florestal e soluções baseadas na natureza. O mundo caminha para isso e eu farei de tudo para estar bem alinhado com essa demanda e principalmente fazendo a capacitação dos estudantes”, nos conta o professor Hakamada.
O Departamento Florestal da ESALQ USP se destaca como um dos principais celeiros de talentos na área florestal. Reconhecido nacional e internacionalmente pela excelência acadêmica e pela contribuição para o avanço do conhecimento, este departamento tem sido uma fonte inesgotável de profissionais, professores e mestres que deixam sua marca no setor florestal.
Portanto, investir na formação e capacitação de Engenheiros Florestais é investir no futuro do nosso planeta. E, nesse sentido, o Departamento Florestal da ESALQ USP continua a desempenhar um papel crucial, preparando os líderes e visionários que irão moldar o rumo da Engenharia Florestal no Brasil e no mundo, em prol de um ambiente mais equilibrado para todos.