A madeira de Corymbia: a...


A indústria de celulose e papel é um dos setores mais importantes da economia brasileira. Em 2022, o setor produziu 27,9 milhões de toneladas de celulose e 14,7 milhões de toneladas de papel, gerando um faturamento de R$ 142,4 bilhões, segundo a Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP)

O Brasil é o maior produtor de celulose e papel da América Latina e o quarto maior do mundo. O setor é responsável por cerca de 3% do PIB brasileiro e emprega mais de 250 mil pessoas.

No entanto, a indústria de celulose e papel é também um dos setores que mais impactam o meio ambiente. O processo de produção de celulose e papel gera efluentes, resíduos sólidos e gases poluentes.

“Os híbridos entre espécies do gênero Corymbia têm mostrado ser uma opção interessante como material alternativo na produção de matéria prima para os mais distintos segmentos da atividade industrial baseada em madeira de eucalipto. Isto ocorre principalmente em virtude da sua resistência à maioria das pragas e doenças que causam danos às plantações de eucalipto, além da sua resistência ao “distúrbio fisiológico”, da maior resistência ao vento e da excelente qualidade da sua madeira”, afirma o Engenheiro Florestal Teotônio Assis.

Os híbridos entre espécies de Corymbia são cruzamentos ainda pouco explorados, mas que podem se tornar importantes para a obtenção de vários produtos, tais como celulose,  carvão vegetal, chapas, madeira serrada, energia de biomassa, postes e mourões. A maioria das espécies, assim como seus híbridos, apresentam densidade da madeira acima de 600 kg/m³ aos 7 anos de idade. 

Nesse contexto, a madeira de Corymbia emerge como uma possível solução, oferecendo uma fonte sustentável de matéria prima. A seguir, vamos explorar seu potencial e a importância do investimento em pesquisa para sua aplicação na indústria.

A madeira de híbridos de Corymbia como uma fonte de matéria prima sustentável

Os híbridos de Corymbia são materiais genéticos florestais de rápido crescimento, com potencial para ser uma fonte alternativa de matéria-prima sustentável para a indústria de celulose e papel.

As árvores híbridas de Corymbia podem atingir 30 metros de altura e 80 centímetros de diâmetro em apenas 10 anos. Essa característica torna os híbridos de Corymbia uma opção mais sustentável do que a madeira de outras espécies florestais, que requerem um período de crescimento mais longo.

Além disso, a madeira de Corymbia tem características físicas, químicas e mecânicas que são adequadas para a produção de celulose e papel. A madeira de Corymbia é densa, resistente à degradação biológica e possui uma cor clara.

O investimento em pesquisa para o desenvolvimento da madeira de Corymbia

Para que a madeira de Corymbia se torne uma realidade na indústria brasileira de celulose e papel, é necessário investir em pesquisa e desenvolvimento. “É necessário conhecer a variabilidade genética dos diferentes materiais genéticos para se projetar o alcance das ações de pesquisa e seus impactos na produção e qualidade da celulose”, destaca o especialista.

Os estudos sobre a qualidade da madeira dos híbridos de Corymbia para a fabricação de celulose são muito recentes e o investimento em pesquisa é fundamental para o desenvolvimento de técnicas de cultivo e industrialização que permitam o uso sustentável dessa madeira. “Por exemplo, a mistura de cavacos de Corymbia com cavacos de Eucalyptus, em proporções adequadas, pode proporcionar ganhos de produção sem afetar a qualidade da polpa celulósica”, comenta Assis.

A importância da pesquisa para o cultivo das florestas de Corymbia

O cultivo de plantações florestais de Corymbia requer o desenvolvimento de técnicas de melhoramento genético que aumentem a produtividade e a qualidade da madeira, bem como de técnicas de manejo que propiciem a maximização da sua produtividade.

A produtividade das florestas de Corymbia pode ser aumentada por meio do desenvolvimento de clones que sejam mais tolerantes a pragas e doenças, que tenham um ciclo de crescimento mais curto e que produzam madeira com características mais desejáveis.

A qualidade da madeira de Corymbia também pode ser aumentada por meio do desenvolvimento de clones que tenham maior rendimento em celulose e melhor qualidade das fibras, já que a  densidade básica da sua madeira é naturalmente mais alta e demanda baixo nível de alterações.

A importância da pesquisa para a industrialização da madeira de Corymbia

Além do desenvolvimento de técnicas de cultivo, é preciso desenvolver processos de industrialização que sejam eficientes e ambientalmente sustentáveis.

A eficiência da industrialização da madeira de Corymbia pode ser aumentada por meio do desenvolvimento de processos que usem menos energia e água, gerem menos resíduos e sejam menos poluentes.

Além das vantagens ambientais, a madeira de Corymbia também apresenta algumas vantagens econômicas. A madeira de Corymbia pode se tornar mais barata do que a madeira de muitos clones de eucalipto, o que pode contribuir para a redução dos custos de produção de celulose e papel.

Os trabalhos da Esalq no desenvolvimento da madeira de Corymbia

A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo foi pioneira no estudo do uso da madeira de Corymbia no Brasil.

A primeira dissertação de mestrado sobre o tema foi defendida em 2015 pelo engenheiro florestal Tiago Edson Simkunas Segura. A pesquisa de Segura avaliou as madeiras de Corymbia citriodora, Corymbia torelliana e seus híbridos visando à produção de celulose kraft branqueada.

A pesquisa de Segura mostrou que a madeira de Corymbia tem características químicas, físicas e mecânicas que são adequadas para a produção de celulose kraft. 

“Corroborando esses resultados obtidos anteriormente, avaliações realizadas pelo Prof. Marcelo Moreira da Costa, mostram que há clones híbridos de Corymbia com alto rendimento em celulose que, aliado à alta densidade da madeira, proporcionam menor consumo específico de madeira, ou seja, menos volume de madeira se gasta para produzir uma tonelada de celulose. O CEM (consumo específico de madeira) está por volta de 2,7 m³/tonelada nos clones de melhor desempenho, necessitando de menor área plantada para uma mesma produção industrial. Atualmente, na maioria dos clones de eucalipto disponíveis, são necessários de 3,5 a 4,0 m³/ton de celulose, ou seja, um ganho altamente expressivo dos híbridos de Corymbia em relação aos clones de eucalipto”, finaliza. 

A Esalq, assim como várias empresas florestais e outras entidades de pesquisas continuam a estudar o uso da madeira de Corymbia, com foco no desenvolvimento de tecnologias para aumentar sua produtividade florestal e melhorar a qualidade da sua madeira para diversas finalidades. 

Neste sentido, o investimento em pesquisa é essencial para que a madeira de Corymbia torne-se uma realidade na indústria brasileira de celulose e papel.


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